quarta-feira, junho 01, 2011

Boa noite, inferno astral


Enquanto vou vivendo o meu momento em meu mundinho, sinto o "reco-reco" do vizinho de cima desabando sobre a minha cabeça. A água da garagem ao lado, e o latido do cachorro - aquilo que ninguém dá jeito.
Entre uma propaganda de desodorante (ou outra coisa sem sentido) e algum pedaço de filme, piscam as janelas.
Algumas pessoas roncam como portas - ou seriam portas que roncam como pessoas? Alguém deveria colocar óleo nas ferrugens, como aquele carro velho que passa aos soluços. Esse mundo de máquinas tristes, pessoas humanas às vezes.
Ninguém parou para procurar constelação alguma hoje, e esse frio mórbido deixa alguns pensamentos duros como o chocolate que vc esqueceu no freezer. Algumas coisas duras são as palavras do meu vizinho de cima, os uivos lânguidos e provavelmente todo o resto.
Eu queria entender os programas da madrugada. Os fogos comemorando a derrota do time rival, desfile de lingeries, Amaury Jr, Fala que eu te escuto, fama difamada, sacanagens sexuais (e as outras? as verdadeiras sacanagens que ninguém fofoca à noite?), disque qualquer coisa. Muito futebol sendo discutido, muita informação dita por não dita, muito (in)cult nos programas de auditorio, um músico novo, um comediante e uma atriz-modelo querendo um lugar nenhum ou lugar-comum. Procuro em todos os canais e os filmes que eu quero ver e que sempre passam num dia que não estou. Franzindo o cenho: não compreendo.
A torneira da pia só não incomoda mais do que o silêncio. E o reco-reco das camas, e roncos, e luzes na janela, e miados de gato, latidos, girafas bebadas ambulantes antecipando o final de semana. Só falta chover!... e o vão da marquise do vizinho pingar um sem fim de vezes sobre a minha janela mais rápido que a minha capacidade de não pôr o travesseiro sobre o rosto.



Mundinho escuro: 4 membros, paredes, cantos. Algumas das minhas insônias espalhadas na cama jogando cartas, ou discutindo uma com a outra a hora de acordar amanhã. Recorro ao último consolo: laptop e que o wiffi não esteja com sono. Aos poucos encontro a paz de não conseguir dormir na guerra escura das noites claras (fico brega de repente, é sempre de madrugada, sempre assim, repare.). Bisbilhoto todas ascoisas alheias que passam a ser menos alheias do que antes. Sento e escrevo, no "signo que tento crer e ser". Deleto tudo até aqui.
Começo assim:
Meu momento em meu mundinho - e alguns sons da madrugada que definitivamente incomodam.

Um comentário:

Mad Scientist disse...

"Pessoas que roncam como portas ou portas que roncam como pessoas" huahuauha mt bom!
Gostei bastante desse.