segunda-feira, dezembro 15, 2008

Lá vem a cortina de fumaça


A despedida

Não me leva a mal
não - não, senhor
Não me leve não
Deixa aqui - deixa eu ir
Porque a porta
Ela está no coração
Mas a maçaneta - pé de gente bate
E tem vontade não
Tá fechada a janela
Eu espero a espera
Tou sentada na pedra
Vejo a luz amarela deitar
Somos dela
Somos vida
Somos despedida
Não me leve a mal
Vamos todos ir
Vamos ser de sal
Vamos todos partir de si
Mas o amor vai ficar.

(por Cláudia Rocha em 25/10/2008)

É apenas para contar desse tempo que vai se perdendo na velocidade dos passos do ponteiro - sem dizer qualquer coisa audível - apesar de todas as coisas visivelmente gritantes.

sábado, dezembro 06, 2008

Congelando a expressão


Esse que sacode as chinelas
Assopra o vento no rosto
Arranca flores pela janelas
Desgruda as roupas
Fica transparente
E risonho
mesmo em dia de chuva

Esse é um mundo malcriadinho.

(trecho de Mundinho malcriado - por Cláudia Rocha em 24/09/2008)



fotografia: "Dali atômico" por Phillipe Halsman

sábado, novembro 29, 2008

Monólogos de orelhas em pé

Ano desmedido
por Cláudia Rocha (31/10/2008)


O ano de hoje já parece, na cara, um outro ano
Mesmo que ele ainda, amanhã seja ontem
Hoje, no ontem, ele parece verde como sempre
Mesmo que até o final do suspiro
Eu não saiba tudo que ele tem na manga
O ano de hoje já está com as chuteiras penduradas
Já sentou na cadeira
Já decidiu curtir a paisagem
Ele já veste outras roupas
Já acha tudo muito desbotado
Este ano com cara de velho
Resolveu fazer plástica
Na minha carteira de identidade
Me sinto jovem perto desse ano velho
Mesmo que ele me puxe o pé e diga ao invés
Que viu mais coisas na vida do que eu
Eu apenas digo - engano seu
Vc só vai ver fogos de reveillon uma vez.

terça-feira, novembro 25, 2008

Tomada 1....

"(O SPLEEN DE PARIS-XXXIII- Embriagai-vos)
É preciso estar sempre embriagado.
Eis aí tudo: é a única questão.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que rompe os vossos ombros
e vos inclina para o chão, é preciso embriagar-vos sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa maneira.
Mas embriagai-vos.
E se, alguma vez, nos degraus de um palácio,
sobre a grama verde de um precipício,
na solidão morna do vosso quarto,
vós acordardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que anda, a tudo que canta,
a tudo que fala, perguntai que horas são;
e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-vos-ão:
“É hora de embriagar-vos! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo,
embriagai-vos: embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude,
à vossa maneira”."
[Enivrez-vous: Il faut être toujours ivre. Tout est là : c’est l’unique question. Pour ne pas sentir l’horrible fardeau du Temps que brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve. Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous. Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe verte d’un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l’ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l’étoile, à lóiseau, à l’horloge, à tou ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est ; et le vent, la vague, l’étoile, l’oiseau, l’horloge, vous répondront : « Il est l’heure de s’enivrer ! Pour n’être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous ; enivrez-vous sans cesse ! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise».]

Ultimamente Baudelaire tem feito a minha taça.

Em breve quando terminar de organizar minha mala de coisas por extenso, e aprender a ter um blog para guardar direito minhas coisas - uma espécie de armário literário - vou começar a deixar as escovas de dente, o par de meias, a cinta-liga e o chicote.

sábado, novembro 22, 2008

ANTES QUE EU ME ESQUEÇA....


Muito prazer.
Eu costumo ser mais do que uma mão esquerda.
Mais tarde nos conhecemos melhor.
Por enquanto eu prossigo tendo o mesmo trabalho que o tempo: nunca parar.

*QofN*

terça-feira, novembro 18, 2008

Post de teste

Na vida precisamos fazer testes.
Testar o cheiro, o sabor, o gosto, o máximo deslumbre do simples toque.
Precisamos nos pôr à prova do teste - de escola, de elenco, de dor, de religião, de amor.
Me dê licença meu pobre desconhecido. Não espere muita coisa do meu teste.
É apenas uma breve passada de cena, um improviso desses bem reles.
A cor que fulgura do palco é outra - assim como é outra a mulher que virá aqui lhe falar.
Nunca se acostumem com nenhuma delas.
Ela só está brincando.