sexta-feira, dezembro 25, 2009

...

Realidade espacial 
por claudia rocha - novembro de 2009

Então o tempo já passou
Já acabou o carnaval
Já choveu um céu de confete
Já molhou-se a calçada da frente
Repentina serpente mudando o papel
De que a realidade é um sonho
Todo meu e todo seu

Então já está um breu
Nesses olhos acesos que foram
Morreu um pedaço do eixo, cambaleio
Torto e à direto sem consolo
Vou sem meu braço dado
Ao que restou do passado

E agora que eu preciso respirar
Que eu preciso aparecer na janela
Ter um mundo
Vulgar
ou que seja
Pra eu chamar de mim mesmo
Independente do que seja
Esse eu agora sem vc

Então restou alguém atrás das roupas
Restou a rua inteira e a secura
A calçada da frente parece mais segura
Preciso andar pra outros lados desta Lua

Hoje eu já amanheci um céu
Nesses olhos de mar diluido
Morto em pedaços de sexo, me esqueço
Mas te esqueço também proibido

E vou sem meu espelho sorrindo
Sem precisar ver pra crer que estou vivo

terça-feira, dezembro 22, 2009

Rastros de lençol
                                         (setembro de 2007) por Cláudia Rocha

Meu amor me beija e me joga na cama
Me descabela e me embeleza de calor nos olhos
Meu amor vira sonho e fecha todas as frestas
Pranão ver a clausura do Sol
Entre a janela e o praíso do quarto
Meu amor deixa o mundo de quatro
braços, lábios traços-desejos emoldurados
E vira esquadro nos meus ombros
Construindo cada gemido no espaço
E funde seus largos nas minhas frontes
Inaugura uma cidade em cada roteiro
Em cada lacuna que o beijo
E vejo cada rastro
Lembro da rasura de desejo e inocência
Que a gente se desmembra e refaz
Com o mais puro e ardor abstrato
Concreto sobre concreto nos ais
Eu fecho os olhos e o vejo
Coberto por sobre meus nus retalhos
E nos acabamos, patetas, felizes,libertinos
Gozados, gozados

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Antiga (por Cláudia Rocha ) em dezembro de 2009

Eu
(Não essa que envelhece)
Sou chegada ao despudor
Aos aforismos desbocados
Às quatro pernas do mundo
Girando-se ao contrário
Sou chegada à uma velocidade
De um tempo que nunca pára

Eu
(Não essa que tem medos)
Sou finda de tornados e serpentes
Sou atada às veias veementes
Largo o dedo no papel
No seu corpo , no meu
Dou à cara ao céu
Digo que chova mesmo

Eu
(Não essa que consome amanhãs)
Sou hoje, agora, instante
Sou sem coração de ontens
A roupa jogada na pia
Face destruida por cacos
Eu me curo, eu me reencaixo

Eu
(Não essa com cores e gostos)
Sou pouco suor pra muito calor
Me perco no ar desse vento
Sou motor de arranque e explosão
Não tenho ritmo, rima, tendinite
Não tenho quem me ame às 4as feiras
Loucamente
Não sem cabeça, ou só corpo
Nem só mãos e mãos somente
Que não sabem tocar

Eu
(debaixo das cobertas do tempo)
Sou a mesma criança debaixo dos selos
Debaixo da boca, da língua
Me engulo, me lavo, me navego
Não me naufrago, sou terra
Mas, nem tanto, sou água
Derramo
Não presto, me estrago fedida
Limpo o borrão de maquiagem

Eu
(não mulher, nem mortal)
Sou feita dos feitos de carnaval
Na avenida florida
De gentes e dentes sorrindo

Mas eu, que sou eu
Sou de areia e sal
Sou letra , sou teia
Sentimental
Vou chorar, por vc não lembrar me mim
Eu que sou eu
Sou meio outra
Mas nada mal
Nunca mudo de mim
E só vou embora
Quando me expulsarem daqui.