quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Projétil (Cláudia Rocha - janeiro de 2008)

Eu estou só
Querendo que a noite permaneça
Enquanto eu me mudo
Do minuto de agora
E refaço o mundo
Com a largura de um sorriso
De lembranças passadas

Estou só eu
E a tela fria do tempo
Brincando de futuro
Risonha têmpora de amanhã
Despertada no dia quieto
Eu estou só no plural dos verbos

Esqueçam, vcs neurônios
O segundo e o primeiro desejo
Que fizeram anteontem à sua invisivel estrela
Larguem, vcs braços
O amor não dado à sua palma
Ao arremesso de platéia, vagos
Sonhos esses que vcs deram n'água
E não voltaram nuvem

Sejam, vc - imagem, espelho
Uma pista mínima pro território
Dos olhos e pernas
O enxergar mais que o olhar
E o pisar mais do que o existir

E me recolho só
As muitas de mim mesma na imensidão
Apagando os fósforos de cada dedo
De cada gesto seu que é aquém
Numa ciranda de mãos às idéias
Ressonando e me vendo dormir
Quase caindo do teto do porém
Do existir

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

O dito pelo não dito

Poesia primeira (por Cláudia Rocha/ 31/12/2009)

Como se eu fosse inteira
construida de vazios
E matérias
Eu gostaria de ser o silêncio
sapiente das coisas concretas

Mas como sou de água
Odor e alfabeto
Apenas posso ser
Humana, gesto
e instrumento

Se eu pudesse ser astro
Teria menos dores de cabeça
Soltaria raios nos olhos
E queimaria meus inimigos

Mas por ser mulher
Apenas evaporo como a nuvem
Matéria fêmea
E humano vazio

E seria flor até
Se alguém me desse
Um puxão arrancador da terra
Mas meu homem cheira os cabelos
E apenas me deixa na lama
Das raízes bem presas

Eu seria mais livre
Se não fosse esse corpo
Ao fundo do copo
Que você bebe

Mais penumbra
se não fosse essa luz
Que os seus olhos procuram
Com tanta sede e fome

E se pudesse ser de outra õrbita
Seria um satélite à parte
Uma Lua entre Vênus e Marte
Inabitada para não ser planeta









terça-feira, fevereiro 16, 2010

A paixão de cinzas



(por Cláudia Rocha - 2009/dezembro)

Moça que me olha da janela
Não quero ouvir mais dela
Um som saindo da boca

Quero dizâ-la, acordá-la
E deixá-la acesa
No apagado da noite toda

Vou sentir o frio de seus membros
Ainda mais frios por dentro
E ainda mais frios por serem menos meus

E por mais que me olhe do outro lado
A entenderei o tom amrgo
O piano molhado de música
E os lábios

Moça que se perde na estrada
E me olha na janela
Não quero ver sua cara
Sua palidez de fada

Quero deixá-la fadada
Deixá-la acesa a noite toda
No apagado da lembrança

Como uma dança de ontem que me recusou
Como um beijo de hoje maldito
E um não que não pensou

Um grito

Moça molhada na minha janela
Espelho de uma realidade estúpida
De um mundo onde o pensar raivoso
Não é semente ou sequer murta

Ela está morta, sujeito
Ela, moça, paixão
Não se levanta do meu peito

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

É Carnaval - o ano começou com confetes .º. º;º..

O pOEMA CRU

(por Cláudia Rocha - fevereiro 2010)


Te encontro os olhos rudes
Brincando na boca larga
A voz da minha tragédia em silencio

E como se não tivessse dimensão para ir
Eu parto o que não compartilho
essa tua firmeza de círco
Nos traços emprestados do palhaço

Eu te sorrio pra não chorar
E te encontro, incontestável
Ainda gemendo, alardeado
A voz do mais profundo amor

Ainda que de amor não seja feita a vida
A gente pinta o borralho de sangue
E a inocência escorre pura
Nas veias das flores arrancadas

Ainda que de vida não sejam feitas
As palavras que vc morde aos solavancos
Eu te olho tímida - e profundamente
E sem querer partir
Te amo, destemperadamente
A voz que se cala
com o coração batendo