domingo, novembro 03, 2013

Para Liz

Quarta feira de cinzas

Eu vou me lavar do Carnaval
Abrir a torneira dos dedos
Deixar de chover confetes

Guardar minha roupa de ilusão
Vou tirar os carros alegóricos
Desabotoar o riso bobo do rosto das pessoas

Vou esvaziar as ruas de piratas
Colombinas, realezas, personalidades e mitos
Meu espelho do mar vai ficar
No escuro da memória

Vou esquecer seus lábios
Seus olhos bonitos
Seu jeito de me amar
Distante e inseguro
Vou deixar meu pássaro na gaiola
Ainda como a poeira de uma fênix
Abrir os armários, guardar as magoas

Mas quando existir de novo
Outra folia como a nossa
Eu vou de peito aberto
Pulando de cabeça
Porque acabo sendo assim
De viver a beça
De dançar a dança
Cair de corpo na alma

Inteira, dou meia volta
No ontem
Na semana
Na folia passageira

Infelizmente ou não
Despenteada, de pijamas e meias
Eu também preciso de alguém
Que me ame as quartas-feiras


segunda-feira, abril 08, 2013

Fotofobia (trecho 2)


(Por Cláudia Rocha - Dezembro de 2012)



Eu queria ter um estúdio de revelar pessoas
Passa-las no líquido químico, acesas
Pendura-las na corda, esperar se secarem

Ver nelas a verdade
Preto no branco
Amarelo no azul
Contraste de luz
Sombra e carne

Eu queria ter alguns verbos
Pra apoiar como uma câmera
E ser ouvida com flashes
De clareza instantânea

Ver sorrisos nos olhos
De quem sabe usar os lábios
Não para sons ou promessas
Mas para guiar com cuidado
Um carro de vidraças

Eu queria ter uma realidade
Virtual como todas
Só pra viver eu e você
Ou quem eu pensei que você fosse

Eu queria ter mundos
Pra sonhar os meus sonhos
Dirigir um teatro de amores
Sem hematomas

Eu queria ter o controle
Sobre o descontrole dos ossos
Eu queria alcançar os dedos
Te pedir e receber o meu tempo de volta

Eu queria caber nessas palavras
Que constam nas imagens reveladas
Eu queria ver seu sorriso de verdade
Eu queria de verdade sorrir e querer

Levar pra casa obras de arte
Ao invés de fotografias antigas
Que não dá vontade de ver.