domingo, novembro 15, 2009

As Folhas das árvores

O que as pessoas não são capazes
de fazer com uma folha em branco?
Rabiscá-las, atravessá-las -
quantas histórias não moldarão com a argila das palavras?
A escolhê-las e transformá-las em barco ou porto
Ou mar em desalinho solto
- ou outra âncora, janela pra outras folhas

Transforma-la-ao em vão de escada,
em adentro-
em sem traço
De sinuosa prisão de coitos e anseios -
deles mesmos - seios

Grade de asas, fórmula, molde - pássaros sem visão
E abismos, dionisíacos, enraizado desejo
Ah, quanto é nossa e não nos cabe a branca
e retalhada folha, nas mãos...

Em mosaicos de vontades, em delírios cheios de aspectos, e atalhos
De sedes sem gesto - pura e alva- como os olhos refletidos de passado
Dos dorsos de pescoço, das carnes
em união pelo ventre e vísceras e genitais

Você a pega e trama- e treme -
indexa ao seu anexo de estima
Sem nexo no espaço -
Rasga sua roupa-
em trapos e manifestos,
gira-a

Mas a sua inexatidão é uma nota - e solta -
é só uma folha vadia-mesquinha
E a cadeia de enredos
 joga os cabelos pra trás das murtas
Arranca os grampos dos varais das almas
E o barro a sangrar de doer
por cada odisséia e platéia súbita
Que é capaz de ver,
a cada assopro de linha
Enquanto você simplesmente poderia
deitar nela sem querer
E ver a noite virar dia,
vazia, travesseiro e sereno
Mas você prefere devorá-la
vivendo e sendo

Beijá-la nas duas faces,
como seu nome, como seus ossos
E vê-las-vê-la- como uma das folhas das árvores
Onde os papéis sobem no palco do mundo
E são todos nossos - ímpares e ambos.



quinta-feira, novembro 12, 2009

100 receitas para enlouquecer em silêncio

por Cláudia Rocha

Doi, sobretudo


E naufraga, sobremaneira

Por conseguinte ao instante

Que estamos distantes de ontem

O hoje quase não presente

É a sombra da luz dos olhos´

Esfera de núcleos atômicos

Balança a odisséia

Que traça a cada passo

De ponteiro, minutos

Que nunca,não se acabam



Sempre será menos dor

Como numa queimadura

A água também arde

Até que desestrutura

E nos deixa de olhos atados

De braços cruzados ao corpo

Sem endereço de consolo

Um coração a menos no peito

Tolo, o disparo

Pela boca aberta do estômago

E perco o partido verso

Sou toda ao avesso do avesso



Sou mágoa ignorada

Fingida, ue vira o pescoço para

O lado fingindo que não olha

Fingindo casualidade amistosa

Rasgada de raiva, abominada

Ainda que mágoa tão mulher

E chia de vaidades



Mágoa pura cachaça de boteco

Nas mãos e bocas áquens do desespero

Das mãos que se perdem ao leito

Num quarto de olhos, sem céu nas janelas



E dói, sobretudo preto

Sobremaneira branco

Mormente vermelho-sangue

Principalemnte humano

E passionalmente pronto, bruto

Pra te mandar para fora

Da minha cabeça louca

Com seus gritos de lobo

Te esquecer homem

Mais um como todos os outros.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Fotogênese (luz na base frontal - música ambiente)

Estou deserta de mim.
Porque inteira sou sua boca
Moro na sua palavra pendida
No verdor gritante da primavera
Sou o silêncio ensurdecedor
Dos gestos perdidos nos olhos
Desatentos como um papel no vento
Como um chover de repente
Ainda que por causa do calor

Mas estou grão sobre grão
Sem fruta ou fonte
Ou carne saborosa
Sem nas minhas-suas mãos
Um corpo de alma viçosa
Sem a luz que brilhe
Quando o Sol se põe

Sou uma noite
De luz apagada
E sem estações para parar
Ou canais de TV
Para passear de madrugada

Sou o apagão da rua ao lado da sua
A sombra do seu colorido braço
Sou o esboço de amor
Que nunca tentei ser aocerto
Ou até mesmo ao errado.

Estou desetta nas veias
Nos versos e vias
Estou alheia de mim
Na minha prórpia vida

E tudo porque...
E tudo porque?
Porque não posso ousar
Mergulhar nesse ar
Respirar seu corpo
E te amar.

........

(Cláudia Rocha - setembro de 2009)