sexta-feira, outubro 16, 2009

... *explosão*

Poesia despreocupada (por Cláudia Rocha - 2008/28 de outubro)

Estou cansada da poesia de olhos turvos
Encarando uma manhã de dentes prostrados
Corridinha de raios abertos noutro lado do mundo
Desembaraçada mas sem qualquer gesto
Pelada, ah, mas coberta de enfados e torpor
Fico morta aos solavancos da poesia sem perfume
Sem a música dos versos ou com rima de roda
Como musiquinha triste de cidade de interior da gente
Que parece tudo muito borrado, tudo muito parede mal-pintada
Perco meu ar de brisa livre
Com essa poesia estendida de todos os dias
De todas as gentes que pegam metro e trem
De todos que vão lá ver a volta que o mundo deu
Pra chegar a lugar nenhum
Não gosto da carne sem sabor de uma música feia
Que alguns olhos em breu se perfazem
Meu gosto é pela poesia sem lugares
Sem personagens, sem palco ou corpo pra morrer
Quero aquela poesia que se esquece de ser viva ou miragem
Que foge do propósito do pulso e das veias
Mas nem por isso é morta na linguagem do saber
Mal-falada ou mal-compreendida
Sem precisar deixar a gente sem graça ou com pena de entender
Ou com raiva do que ela poderia ter sido e não foi, derrelida
Eu quero aquela poesia que a gente escreve sem precisar reler
Pra ver que não era prosa, porque não precisaria ser
Bendita e falada em mar alto pra ter alguma voz
Entendida ao meio tom por caber num sussuro de todos os sons
Uma poesia sem linhas, que não manifeste o cansaço de um dia inteiro
De um ano de rios de janeiro a dezembros
Uma poesia sem tempo de relógio, sem portas de armário
Daquelas que quando vc olhe, não veja início ou fim
Como um desabafo em consolo de mim pra mim
Nesse borralho de mundo magoado
Esquecendo que seria de mim para ti
O meu caso de poesia é meu caso de amor
Ela tem que ser eu, ela tem que ser seu
Ela tem que dizer o que é voce antes do dia acabar
Antes dos olhos perceberem que está tarde pra dormir
Pois vc acabou de deitar - nesse vestido de azul
Pois ela já puxou seus braços pra si
E te abraçou.

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