segunda-feira, dezembro 07, 2009

Antiga (por Cláudia Rocha ) em dezembro de 2009

Eu
(Não essa que envelhece)
Sou chegada ao despudor
Aos aforismos desbocados
Às quatro pernas do mundo
Girando-se ao contrário
Sou chegada à uma velocidade
De um tempo que nunca pára

Eu
(Não essa que tem medos)
Sou finda de tornados e serpentes
Sou atada às veias veementes
Largo o dedo no papel
No seu corpo , no meu
Dou à cara ao céu
Digo que chova mesmo

Eu
(Não essa que consome amanhãs)
Sou hoje, agora, instante
Sou sem coração de ontens
A roupa jogada na pia
Face destruida por cacos
Eu me curo, eu me reencaixo

Eu
(Não essa com cores e gostos)
Sou pouco suor pra muito calor
Me perco no ar desse vento
Sou motor de arranque e explosão
Não tenho ritmo, rima, tendinite
Não tenho quem me ame às 4as feiras
Loucamente
Não sem cabeça, ou só corpo
Nem só mãos e mãos somente
Que não sabem tocar

Eu
(debaixo das cobertas do tempo)
Sou a mesma criança debaixo dos selos
Debaixo da boca, da língua
Me engulo, me lavo, me navego
Não me naufrago, sou terra
Mas, nem tanto, sou água
Derramo
Não presto, me estrago fedida
Limpo o borrão de maquiagem

Eu
(não mulher, nem mortal)
Sou feita dos feitos de carnaval
Na avenida florida
De gentes e dentes sorrindo

Mas eu, que sou eu
Sou de areia e sal
Sou letra , sou teia
Sentimental
Vou chorar, por vc não lembrar me mim
Eu que sou eu
Sou meio outra
Mas nada mal
Nunca mudo de mim
E só vou embora
Quando me expulsarem daqui.

3 comentários:

Kavita Kavita disse...

"Aquele que não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado"
(Hans Magnus Enzenberger)

Leonardo Bianchi disse...

Gostei da quarta parte...
só que no meu caso é muito suor pra pouco calor :) e sempre me perco no vento.
Excelente, gosto muito dos seus textos, obras primas.
abs

Anônimo disse...

Que lindo, moça! Que lindo!

Confesso: me despi da minha máscara julgadora e atentei mais a cada uma de suas palavras como se eu pudesse ser você por um momento. Daí, sem mais meios de não ser mais quem eu era - só eu somente -, voltei, e fui mais, mais do que a tentativa de ser você somente (nunca o serei), mais do que a solidão de ser eu mesmo. Me tornei algo que nem eu mesmo sei, mas aos poucos saberei (até que eu não seja mais nem isso e nem aquilo novamente).

Enfim, me toquei pelas suas palavras e, com certeza, não sou, não serei mais eu mesmo.

E é isso que me encanta!

Grande abraço e continue escrevendo. Procurarei seguir seu blogue!

Até mais,

Davi