quarta-feira, setembro 23, 2009

Homo Faber

Esse negócio de Liberdade


Pareceu curioso esse negócio de liberdade que me desacorrentou as pernas do chão e os braços do abraço sinuoso da cama. Esse povoar descuidado das roupas nas linhas territoriais do meu corpo despatriado. Eu daria mais pernas para este mundo girar se pudesse. Mas talvez eu não dê sequer uma única palavra para o futuro deste instante. Talvez eu dê para ele apenas um longo suspiro de paz - com se a paz fosse toda minha e eu não devesse nada - absolutamente nada, como assim não devo - a ninguém... nem a Deus por ter feito cada intervalo entre os poros, nem a meus criadores por ter feito cada vida entre as membranas desgastadas na fibra humana latente que me configura a existência. Tá ai uma palavra que faltava no Aurélio da minha cabeça: eu sou livre pro que bem entender!
Livre para acordar de manhã e abrir minhas linhas na torneira, livre para cada olhar primeiro sobre as coisas. Livre para me dar aos pouquinhos à todas coisas soturnas. Livre pela madrugada gostosa das cobertas, ou pela claridade da janela não adormecida. Livre para olhar o Sol ainda que ele fique guardado em seu novelo - amortecido de nuvens. Sou livre para o amor ainda que ele não me pertença. Livre para essa poiesis estúpida confundida com vaidade. Livre para abocanhar o mundo inteiro com as pernas e mãos e palvras ébrias - ou sobrias delas mesmas. Livre para te dizer o que queira, só pq sou livre e sei imitar o infinito tão etereamente
Hoje faz uma manhã bonita, diferente do mau-humor nublado de ontem. Hoje estou cansada de ser acorrentada à idéia fixa de ser feliz. E só por ser só livre, só e livre e somente... me sinto cada vez melhor a cada instante. Cada vez mais sufocada de vazios, que pesam quase nada sobre minha carcaça urgente. Mas esse meu nada é alegre e motivado de dez cabeças, só me faz pensar que posso respirar tranquila. Olhar pro relógio e entender que até os ponteiros não se preocupam com o tempo depressa que lhes invoca a humanidade. Hoje, e livre, e fixa, olhar pro Sol, e me desabar humana, sem precisar dos seus dedos e da sua boca nos meus lábios. Sem precisar de palavras para explicar o o doce brilho fresco da manhã em meus cabelos. Nesses braços longos que possuem os meus olhos - pra essa forma física que tem os meus desejos.

(texto adaptado de Hoje sou livre! feito em setembro de 2009)

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