quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A hora das cinzas

Foto tirada por mim dia 13/12/2008



A hora da espuma

Amor é uma banheira cheia de espuma

Quando entramos nele, somos sólidos

Quando bebemos seu disforme líquido

Instransponível nos dedos

Somos - à toda parte

Cheirando à sabonete de lavanda

Mas ao sair dele é um derramar de águas

Descondensado

Fluxo desalmado

De transparentes lavas

Ardemos na boca ártica do mundo

Temos o arrepio súbito do suor gelado

Que nos arremata a nuca gasosa

Em todas as línguas avessas

Sugando o sumo dos olhos

Queremos logo outro banho de mágoas

Tamanho o querer de uma ducha desesperada

Buscamos a cheiúra vã entre as pernas

Pegando-nos até os ombros sóbrios

Pendemos a nos inundar e mergulhar

Na tênue e indefinível lembrança

Por isso temos líquido na torneira de ossos

Líquido alcoólico, breve e espesso

Somos um gozo de organismos suspensos

Que só queria se espalhar aos quatro cantos

Dos braços abertos e tão largos quartos e paredes

Tanto que não poderíamos imaginá-los tão sólidos

Queremos outra margem para nos desembocar

Os sábios amparos extensos

Que guardamos em um infernal cômodo do peito

Que não se acomoda na casa que é ser

Que nunca se suja nessa infecção deslavada que é existir.