Estar sendo (por Cláudia Rocha, julho de 2011)
O antes não me comove
De frente pro agora
Estamos distantes de amanhã
Mais perto da memória
Se antes, meus quadris largos
Parecem agora estreitos fardos
Sobre o volume das pernas
Se ainda antes meus ombros
pareciam pequenos
Junto aos braços
Hoje é maior o peso
Do piano nas costas
Mas é melhor a qualidade da música
São mais firmes os sapatos
Se antes eu tinha mais curvas
Hoje sou mais mulher
Dos pés á cabeça,
na dimensão da barriga
Se antes eu tinha feridas
Abertas no infinito do obscuro
Hoje eu danço no claro
Aceso como uma lâmpada
Se antes eu tinha sonhos
Hoje eu tenho o tempo de fundá-los
Hoje eu tenho ossos
Choros, lanhos
O antes, jovem, senil
Cru, etéreo, saboroso
Como uma colher de chocolate
São meus quilos extras
Minhas melhores fotos
Meus amigos que não vão embora
Mas o agora é fato
É pesado e largo
Nem minhas duas coxas aguentam
Mas tudo é muito mais claro
No amanhã desbotado
É preciso mais alma e menos poema